terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Por que abordar Sexualidade dentro das Escolas?


FAL – Faculdade de Natal – Unidade da Zona Norte.
Curso: Pedagogia - Disciplina: Didática – Profª. Maristela Cruz.
Atividade Avaliativa Grupal – Unidade II.

Por que abordar Sexualidade dentro das escolas?

Nas últimas décadas o impulso social e as mudanças provocadas pelas transformações econômicas, pelos avanços das tecnologias empreendidas no campo das ciências e das comunicações, vêm refletindo logicamente no comportamento humano na busca de reformulações dos conceitos éticos e valorativos, sociais e de novos padrões comportamentais da sociedade. O quadro também inclui a Sexualidade Humana contemplada neste contexto social e bastante polemizada; tendo em vista o aumento dos índices de Gravidez Não Planejada, bem como o aumento dos riscos pelas infecções das Doenças Sexualmente Transmissíveis – DST e o HIV/AIDS.
Sabe-se que a vulnerabilidade dos adolescentes é fortemente aumentada pelo uso abusivo de drogas, casamento prematuro, falta de referências nos pais, situação sócio-econômico-cultural, sentimento de onipotência, preconceitos, baixa auto-estima, são alguns fatores que somados a falta de uma proposta de prevenção de forma sistemática e consistente na escola, aliadas também ao despreparo de muitos profissionais tanto na educação quanto na saúde para lidar com as questões da sexualidade humana e reprodutiva, quanto aos serviços de saúde da rede pública, admite-se que eles não são muito acolhedores. Portanto, no mundo moderno os fatores que podem colocar os adolescentes em situação de risco.
No Brasil ”existem mais de 600.000 partos de adolescentes por ano, esse número acrescido á estimativa de abortos provocados que é de 500.000, chegaríamos ao número espantoso de 1.100,00 ou mais de gestações não planejadas por ano, considerando ainda que exista no país cerca de 17 milhões de adolescentes do sexo feminino, a estimativa estatística é que uma a cada 17 jovens engravidaria nos próximos meses”¹.
Segundo o senso de 2000, no Brasil temos uma população de 35.302,972 adolescentes, com um agravante de ter entre 15 e 19 anos, a única faixa etária em que a taxa de fertilidade aumentou. Baseado em dados fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), quase 30% de todos os partos realizados no país em 2002 foram em adolescentes, com um aumento entre adolescentes de 10 a 14 anos. Portanto, são várias as razões para preocupar-se com a prevenção a gravidez não planejada, muitas delas ligadas ao mundo moderno, principalmente o excesso de estímulos externos, a maturação dos órgãos sexuais mais cedo, a prática do “ficar” e outras. Entretanto, pode-se dizer que o comportamento que inicialmente se limitava a um contato físico mais discreto, hoje significa frequentemente manter relações sexuais sem proteção. O grande problema é que esses adolescentes estão inseridos em grupo vulnerável a gravidez e as doenças sexualmente transmissíveis, incluindo a AIDS.
Uma pesquisa realizada pela UNESCO, divulgada em março de 2004, envolvendo 16.400 adolescentes de capitais brasileiras, mostra a seguinte realidade:
· 1ª Relação Sexual entre meninos é aos 14,5 anos e entre meninas aos 15,5 anos;
· Métodos anticoncepcionais utilizados: preservativo em 61% dos casos, pílulas em 24% dos casos, mas 11% dos entrevistados nunca utilizaram nenhum método; 4% outro método;
· 01 em cada 10 estudantes engravida antes dos 15 anos.

No Brasil, o parto representa a primeira causa de intervenção de meninas no Sistema Público de Saúde em Adolescentes de 10 a 14 anos².
Portanto, frente a essas determinantes é preciso superar as tendências de crescimento das infecções ás DST e HIV/AIDS e as gestações não planejadas, através de uma proposta de intervenção. Entretanto, episódios podem e devem desencadear um processo de transformação, com isso, legitimando a sexualidade como um aspecto de cidadania, onde todos possam estar conscientes da necessidade do disseminar a prevenção em todos os grupos, por exemplo, na família, na escola e no local de trabalho.
Sendo assim, pode-se dizer que a educação sexual na Escola visa contribuir com a discussão sobre sexualidade, com a função de promover o debate entre os adolescentes, fornecendo-lhes informações claras e objetivas, incentivando a troca de opiniões entre eles, contribuindo assim para o desenvolvimento de um pensamento critico e criativo, oportunizando repensar seus valores e assumir um pensamento próprio em relação ao exercício da sexualidade, com o fortalecimento dos laços de solidariedade e na formação da ética para o exercício da plena cidadania. De acordo com Antônio Carlos Egypto e outros a educação sexual é um processo de vida que permite aos indivíduos se modificar, se reciclar ou não e só termina com a morte, enquanto, a orientação é um processo formal e sistematizado que se propõe a preencher as lacunas de informações, erradicar tabus e preconceitos e abrir a discussão sobre as emoções e os valores que impedem o uso dos conhecimentos³. A adolescência é marcada por um período de transformações e descobertas. Caracterizada, pela busca de independência e pelo desejo de ser reconhecido como adulto. Segundo Leda Casasanta “a adolescência é uma etapa especial do desenvolvimento humano, caracterizado por transformações, seja do ponto de vista físico ou psicológico e social, podendo considerar-se como um momento do ciclo da vida, marcado por instabilidade emocional e reorganização psíquica, que pode variar de acordo com o tempo, o lugar e em cada cultura”4.
Portanto, nesse processo o grupo de amigos exerce uma grande influência sobre suas atitudes e comportamentos, ao se exporem aos riscos e desafios eles querem provar sua capacidade, ainda que não considerem as conseqüências de suas escolhas, eles buscam auto-afirmação, o que muitas vezes coloca-os em situações vulneráveis a problemas.
Pesquisas mostram que “90% da população de adolescentes tem informações que devem utilizar preservativos ao fazer sexo seguro, mas menos da metade o fazem”5. Isto os coloca em situação de predisposição a determinados riscos como DST, HIV/AIDS e Gravidez Não Planejada. Entretanto, essa exposição vai depender de cada individuo ou de cada grupo e também de cada contexto que eles estejam inseridos.
O Marco Legal – Saúde, um Direito de Adolescentes (2005), evidencia a vulnerabilidade como sendo a “capacidade do individuo ou do grupo social de decidir sobre sua situação de risco, estando diretamente associados a fatores individuais, familiares, culturais, sociais, políticos, econômicos e biológicos”. Portanto, acredita-se que esse sentimento de tudo pode fazer e nada acontecer, são características psicossociais próprias da adolescência.
Nas últimas décadas, observa-se que a iniciação sexual tem ocorrido cada vez mais cedo na vida dos adolescentes, como conseqüência, problemas psicológicos, dificuldades nos aspectos afetivos, emocionais e sociais. Nelson Vitiello enfatiza que estamos vivendo uma crise nos valores morais e éticos, uma crise econômica e política, etc, mais o importante é que os adolescentes (em especial as adolescentes) se questionam sobre seus reais desejos, sobre sua real maturidade para dar um passo tão importante, a iniciação sexual e que ela possa ocorrer de forma natural, entretanto é preciso estar pronta, em decorrência de uma relação afetiva mais intensa ou apenas por modismo ou então por medo de que o namorado possa ir embora 6.
A incidência de gravidez precoce e não planejada é uma das preocupações relacionadas à sexualidade do adolescente e que pode trazer sérias conseqüências, como aborto, filhos, sem falar que a grande maioria desses adolescentes não tem condições financeiras nem emocionais para assumir a maternidade e, por causa de repressão familiar, muitas delas fogem de casa e quase todas abandonam a escola.
Segundo Maria Sylvia de Souza Vitalle “quando a atividade sexual tem como resultado a gravidez, gera conseqüências tardias e em longo prazo, tanto para o adolescente quanto para o recém-nascido. Adolescente poderá apresentar problemas de crescimento e de desenvolvimento, emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado, além de complicações da gravidez e problemas de parto. É por isso que alguns autores considerem a gravidez na adolescência como sendo uma das complicações da atividade sexual”7.
Pesquisa realizada pela Secretaria Municipal de Saúde – Departamento de Atenção Básica – Núcleo de DST/AIDS – Natal, apontam que com relação às infecções do HIV de 1983 a 2005 houve um total de 977 casos, sendo 712 do sexo masculino e 265 do sexo feminino, que nesse mesmo período por faixa etária entre 15-19 anos 10 casos, 20-34 anos 463 casos, 35-49 anos 405 casos, 50-64 anos 87 casos, 65-79 anos 11 casos e mais de 80 anos 01 caso. Segundo a freqüência por ano de notificação, os anos que apresentaram índices maiores foram 2003 com 103 casos seguido de 2001 com 96 casos.
Diante do grande impacto da epidemia da AIDS no Brasil, alguns paradoxos têm merecido a atenção dos profissionais da área. Se, por um lado, as informações sobre transmissão e prevenção do HIV têm sido maciçamente divulgadas, por outro, a epidemia vem apresentando um aumento progressivo no número de casos (MS, 1988), modificando seu perfil epidemiológico, atingindo jovens, mulheres, heterossexuais e também as camadas menos favorecidas, que seja no meio urbano como também no meio rural. Portanto, procura-se disseminar as informações juntos aos/as adolescentes e jovens por meio do protagonismo juvenil e pela discurssão dos professores em sala de aula de forma transversal em suas disciplinas.
Assim sendo, o importante é que se inicie projetos, aulas interdisciplinares, seminários, oficinas, rodas de diálogos... Essa idéia que pode se iniciar em um curso formando protagonistas juvenis e que também possam alcançar seus familiares, reforçados pelos professores em sala de aula, nas discussões transversais em suas disciplinas, com abordagens contextualizadas, o que pode incentivar esses adolescentes ter uma iniciação sexual mais tarde, mais responsável, mais prazerosa e que possam responder pelos seus atos, com isso adotando práticas sexuais mais seguras, principalmente com o uso de preservativos.

Texto de:
- Jorge Magno da Costa – Especialista em Sexualidade e Prevenção ás Drogas; Coordenador Geral do Projeto Vida (Grupo de Ações Educativas e Preventivas em Sexualidade Humana e Uso Indevido e Abusivo de Drogas) – Natal/RN, Representante Titular da Educação no Grupo Gestor Estadual do Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas do Estado do Rio Grande do Norte;
- Francisco Josenildo de Lima Barreto – Estudante de Pedagogia na Faculdade de Natal (FAL), Jovem Educador e Especialista em Sexualidade e Prevenção ás Drogas; Coordenador Juvenil do Projeto Vida (Grupo de Ações Educativas e Preventivas em Sexualidade Humana e Uso Indevido e Abusivo de Drogas) – Natal/RN, Representante Jovem do Grupo Gestor Estadual Jovem do Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas do Estado do Rio Grande do Norte.

Referências Bibliográficas:

- 1 Vitiello, Nelson. Manual de Apoio ao Educador – Organon – pg. 33, SP – 2000;
- 2 Ministério da Saúde – SIH/SUS, Ecos, Sylvia Cavarsin;
- 3 Sexo se Aprende na Escola – Ed. Olho D’água – pág. 8 – 1995;
- 4 Afetividade e Sexualidade na Educação: Um novo olhar – Fundação Odebrecht – Secretaria Estadual de Educação – MG, 1998;
- 5 Agência de Noticias da AIDS – 2003;
- 6 Sexualidade – Quem Educa o Educador – Ed. Iglu, pg, 27, 1997;
- 7 Adolescência e outros fatores de riscos – Tese de doutorado – Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina – 2001.
- Guia do Adolescente e Jovem Formador/a do Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas, 2006 – MS e MEC; versão preliminar, vários autores.


Componentes:

Alexsandra Gouveia de Araújo
Edivânia dos Santos Silva
Eliane Assunção da Silva
Fernando Costa Gomes
Francisco Josenildo de Lima Barreto
Maria Regilma Vieira Mendes
Mery Fabiana Palhares de Melo

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabésn meu amigo, este texto está ótimo!!!!!!

Andinho